domingo, junho 8

O outro lado da moeda *

O partido socialista foi o vencedor das eleições europeias para o Parlamento Europeu. Disso não há qualquer dúvida. Obteve mais 123.000 votos que a coligação Aliança Portugal (PPD/PSD e CDS/PP) o que corresponde a uma diferença de 3,75%. Mas por que razão o semblante dos socialistas na noite eleitoral não era de grande festa, como se esperava, e os sorrisos eram espartanos?
Apesar da coligação PSD/CDS ter perdido cerca de 517.000 votos em relação às Europeias de 2009, em que concorreram separadamente, - facto revelador da penalização que algum eleitorado quis infligir ao governo suportado pela coligação – o PS subiu apenas cerca de 86.000 votos em relação a 2009. Este facto, aliado à vitória “pouco expressiva”, para utilizar as mesmas palavras de alguns reputados militantes do PS nacional, muitos com responsabilidades políticas nos atuais órgãos do partido, mais do que justifica a falta de champanhe, sorrisos largos e palmadas nas costas habituais nas grandes vitórias. Era do conhecimento público que todo o PS precisava – e esperava – uma grande vitória para cimentar António José Seguro na liderança do PS e contra aquilo que este quis dizer na noite eleitoral como sendo uma “grande vitória” foi logo contrariado pelas vozes do seu próprio partido ainda nessa noite e ao longo do dia seguinte que vieram dizer que os resultados ficaram abaixo do que se esperava atendendo a todo o “desgaste” do governo. Por isso os socialistas estão agora em plena convulsão interna com a liderança a ser, mais uma vez, colocada em dúvida. Terá Seguro mais vidas para gastar?
Destas eleições resultaram vitórias extremamente preocupantes como aquelas que ocorreram em Inglaterra e França com partidos da extrema-direita, que subiu um pouco por toda a europa de uma forma generalizada. A história europeia já nos ensinou que de grandes crises económicas, com enorme desemprego e descontentamento popular, emergem este tipo de discursos extremistas. Não faltam por aí países a querer devolver os emigrantes aos seus países originários face ao desemprego que por lá também existe. Seja porque pretendem abrir os empregos aos nacionais, seja porque não pretendem continuar a pagar subsídios de desemprego, como no caso da Alemanha. Os sinais estão aí, e se a europa não conseguir resolver estas questões politicas teremos graves consequências. É que da última vez em que estivemos numa situação semelhante com partidos de extrema-direita a surgirem com esta força, irrompeu a II Guerra Mundial.
A abstenção foi a grande vencedora em toda a europa, e Portugal não foi exceção com cerca de dois terços dos eleitores a não votarem. Já em 2009 tinha acontecido quase o mesmo sendo a diferença de apenas 2,9%, o que demonstra que, de uma forma generalizada, a maioria dos eleitores portugueses – e já agora europeus - não se interessa pelas questões europeias e a falta de um verdadeiro debate sobre a europa também não ajuda.

Há quem queira fazer uma extrapolação dos resultados das eleições europeias para as legislativas e até mesmo para as autárquicas. Mas mesmo aí as coisas não correram bem para o partido socialista nacional e local. É que no dia das eleições europeias a TVI divulgou uma sondagem que dá um empate técnico entre o PSD e o PS se as eleições fossem legislativas o que quer dizer que o eleitorado sabe distinguir muito bem o que está em causa em cada eleição, ao contrário daquilo que muitos políticos acham. Por outro lado, a nível local, há sempre quem tente disfarçar o péssimo resultado autárquico com uma subida do PS que “quase vencia o PSD”. Só se esquecem de uma coisa, é que foi a primeira vez em que o PSD ganha em Felgueiras quando o PS ganha eleições nacionais e/ou europeias. Aquela ideia que Assis tentou vender em Felgueiras aquando da sua passagem por cá, durante a campanha, aos cerca de trinta apoiantes que o ouviam do cimo das escadas, de que este é um concelho socialista não é verdade. Os felgueirenses sabem distinguir agora que já conhecem o outro lado da moeda.
[Expresso de Felgueiras, 29 maio 2014]